Tudo é energia. Até mesmo matéria é energia. Na filosofia chinesa, sabe-se
há tempos que matéria pode ser dissipada em energia e energia pode ser
condensada em matéria. Milhares de anos depois,
Einstein comprovaria essa equivalência de matéria e energia na sua famosa
equação E = mc2,, que implica em dizer que matéria é nada mais do que
energia em baixa velocidade. Mas não precisa de tanta matemática para ver
esses fenômenos acontecendo.
Imaginemos uma árvore. A semente colhe elementos da terra e transforma
em energia. Esta energia proporciona a possibilidade de alimentar e
desenvolver sua matéria, e transformar a semente em uma jovem árvore,
que continua extraindo energia da matéria orgânica da terra enquanto está
viva. E quando morre, devolve à terra a sua própria matéria orgânica, que
será usada para gerar energia para alguma nova planta.
Nós, humanos, passamos nossa vida captando energia também. Energia na
forma de alimentos, do ar que respiramos, mas também energia na forma
de conhecimento.
Sim, conhecimento, como todo o resto das coisas, também é energia. Assim
como a energia, o conhecimento permite crescer, expandir, realizar feitos
antes pensados impossíveis. Conhecimento pode ser captado do ambiente, e
deve ser devolvido ao mesmo. Conhecimento derruba barreiras,
adversários, problemas dos mais complexos. Conhecimento é a energia
mais poderosa que existe e, da perspectiva do ser humano, é a que permite
gerar e controlar vários outros tipos de energia.
Mas essa energia tem níveis. Todo conhecimento pode ser visto em
inúmeras camadas de profundidade. O que acontece conosco é que, para
atingir uma determinada camada do conhecimento, precisamos estar aptos
a isso. Ou em termos de energia, temos que ter uma certa quantidade de
energia acumuada para sermos capazes de “pular” para a próxima camada
(mais ou menos como o “salto quântico” que os elétrons fazem ao mudar de
órbita por receber ou emitir grandes quantidades de energia). Somente
depois de ter recebido energia suficiente, as portas do próximo nível de
energia se abrem, e nunca antes.
Todos os direitos reservados
Nam Pai Kung Fu Brasil 2023©
Todos já vivemos isso. Um dia eu decidi reler um livro depois de uns dez
anos. Eu originalmente tinha gostado do livro, mas ao ler pela segunda vez
me deparei com um mundo novo, algo que não me lembrava de ter visto
anteriormente. Eram sensações totalmente diferentes, novas. Poderia
atribuir essa diferença a lapsos de memória, mas na verdade, eu realmente
nunca tinha visto aquilo. Tinha passado pelos meus olhos, mas
simplesmente não tinha energia suficiente para reconhecer o conhecimento,
a experiência inscrita naquelas palavras. Provavelmente daqui a outros dez
anos ele será uma leitura mais interessante ainda.
E, claro, no kung fu é a mesma coisa. Por ser uma arte refinada, grande
parte da sua energia está encoberta sob inúmeras sutilezas, que não
conseguimos apreciar logo desde o começo. Leva muito tempo e prática,
muita paciência e perseverança, para encontrar o conhecimento profundo.
Acontece todo dia no treino: às vezes, escutamos dez mil vezes o mesmo
conceito, por exemplo: “A força nasce da cintura”, “A força nasce da
cintura”, “A força nasce da cintura” (Li Cong Yao Fa, 力从腰发). O que
pode parecer um exercício chato de repetição esconde o verdadeiro espírito
do conhecimento: Não importa quantas vezes o professor precisa ensinar o
mesmo conceito, porque na verdade, somente quando o aluno estiver
pronto para entender e assimilar, é que isso vai acontecer. Enquanto isso, o
aluno pode até repetir incessantemente as palavras do que ouviu, mas o
conhecimento não está dentro dele. Talvez depois de mil e uma vezes, o
aluno tenha a epifania que buscava, e finalmente entenda. E passa a
questionar-se: “Eu ouvi isso mil vezes, por que não tinha entendido até
agora?” Simplesmente faltava energia para entender. Antes, eram só
palavras. E quem ensina tem que ter isso presente, para deixar o discípulo
chegar ao seu momento.
há tempos que matéria pode ser dissipada em energia e energia pode ser
condensada em matéria. Milhares de anos depois,
Einstein comprovaria essa equivalência de matéria e energia na sua famosa
equação E = mc2,, que implica em dizer que matéria é nada mais do que
energia em baixa velocidade. Mas não precisa de tanta matemática para ver
esses fenômenos acontecendo.
Imaginemos uma árvore. A semente colhe elementos da terra e transforma
em energia. Esta energia proporciona a possibilidade de alimentar e
desenvolver sua matéria, e transformar a semente em uma jovem árvore,
que continua extraindo energia da matéria orgânica da terra enquanto está
viva. E quando morre, devolve à terra a sua própria matéria orgânica, que
será usada para gerar energia para alguma nova planta.
Nós, humanos, passamos nossa vida captando energia também. Energia na
forma de alimentos, do ar que respiramos, mas também energia na forma
de conhecimento.
Sim, conhecimento, como todo o resto das coisas, também é energia. Assim
como a energia, o conhecimento permite crescer, expandir, realizar feitos
antes pensados impossíveis. Conhecimento pode ser captado do ambiente, e
deve ser devolvido ao mesmo. Conhecimento derruba barreiras,
adversários, problemas dos mais complexos. Conhecimento é a energia
mais poderosa que existe e, da perspectiva do ser humano, é a que permite
gerar e controlar vários outros tipos de energia.
Mas essa energia tem níveis. Todo conhecimento pode ser visto em
inúmeras camadas de profundidade. O que acontece conosco é que, para
atingir uma determinada camada do conhecimento, precisamos estar aptos
a isso. Ou em termos de energia, temos que ter uma certa quantidade de
energia acumuada para sermos capazes de “pular” para a próxima camada
(mais ou menos como o “salto quântico” que os elétrons fazem ao mudar de
órbita por receber ou emitir grandes quantidades de energia). Somente
depois de ter recebido energia suficiente, as portas do próximo nível de
energia se abrem, e nunca antes.
Todos os direitos reservados
Nam Pai Kung Fu Brasil 2023©
Todos já vivemos isso. Um dia eu decidi reler um livro depois de uns dez
anos. Eu originalmente tinha gostado do livro, mas ao ler pela segunda vez
me deparei com um mundo novo, algo que não me lembrava de ter visto
anteriormente. Eram sensações totalmente diferentes, novas. Poderia
atribuir essa diferença a lapsos de memória, mas na verdade, eu realmente
nunca tinha visto aquilo. Tinha passado pelos meus olhos, mas
simplesmente não tinha energia suficiente para reconhecer o conhecimento,
a experiência inscrita naquelas palavras. Provavelmente daqui a outros dez
anos ele será uma leitura mais interessante ainda.
E, claro, no kung fu é a mesma coisa. Por ser uma arte refinada, grande
parte da sua energia está encoberta sob inúmeras sutilezas, que não
conseguimos apreciar logo desde o começo. Leva muito tempo e prática,
muita paciência e perseverança, para encontrar o conhecimento profundo.
Acontece todo dia no treino: às vezes, escutamos dez mil vezes o mesmo
conceito, por exemplo: “A força nasce da cintura”, “A força nasce da
cintura”, “A força nasce da cintura” (Li Cong Yao Fa, 力从腰发). O que
pode parecer um exercício chato de repetição esconde o verdadeiro espírito
do conhecimento: Não importa quantas vezes o professor precisa ensinar o
mesmo conceito, porque na verdade, somente quando o aluno estiver
pronto para entender e assimilar, é que isso vai acontecer. Enquanto isso, o
aluno pode até repetir incessantemente as palavras do que ouviu, mas o
conhecimento não está dentro dele. Talvez depois de mil e uma vezes, o
aluno tenha a epifania que buscava, e finalmente entenda. E passa a
questionar-se: “Eu ouvi isso mil vezes, por que não tinha entendido até
agora?” Simplesmente faltava energia para entender. Antes, eram só
palavras. E quem ensina tem que ter isso presente, para deixar o discípulo
chegar ao seu momento.
Autor: Julio Villarreal